Um ano e meio depois, Jorge Jesus viveu de tudo na sua 2ª passagem pelo Benfica, mas em nenhum momento esteve perto de entregar aquilo que prometeu
No dia 03 de agosto de 2020, Jorge Jesus foi apresentado como novo treinador do Benfica. Naquela altura, em uma cerimônia faraônica com o então presidente Luís Filipe Vieira, o treinador prometeu que voltava ao clube para ganhar títulos. E, como de costume, não deixou de usar frases de impacto: “Não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo e arrasar”, ao se referir ao futebol que queria implementar. No fim das contas, o tiro saiu pela culatra e JJ terminou sendo arrasado.
Uma das teclas que Jorge Jesus sempre bateu é no poder de investimento. A Liga Portuguesa não é uma das mais badaladas na Europa. Ela serve bem como porta de entrada para jogadores alçarem voos maiores em uma Premier League, La Liga ou na Serie A. “Se vendes os melhores não consegues ser os melhores”, o treinador frisou logo na sua volta à Portugal. Mas aí é que mora a grande questão. Desta vez, o Benfica gastou e gastou como nunca.
Não há como reclamar com o tamanho investido pelo clube. Foram cerca de € 112 milhões. Valores sem precedentes na história do clube e também dentro do futebol português.
5 das 10 contratações mais caras da história do Benfica foram nessa 2ª passagem de Jorge Jesus. Darwin (1º), Éverton Cebolinha (3°), Pedrinho (6°), Yaremchuk (7°) e Waldschmidt (10°)
A expectativa era que o Benfica nadasse de braçadas e fosse dominante diante dos valores investidos. Em novembro, Carlos Carvalhal, técnico do Braga, ressaltou essa discrepância em uma entrevista à Sky Sports. “Na temporada passada o Benfica gastou 100 milhões de euros em jogadores, nós gastámos 300 mil euros, pelo que estamos a competir em circunstâncias completamente diferentes.”



E não estamos falando só a nível nacional, mas também internacional. O Barcelona que vive uma crise financeira investiu apenas € 14,5 milhões para a temporada 2021/22. E não estamos falando do Barça aleatoriamente, mas sim porque foi eliminado na fase de grupos da atual Champions para os encarnados. Essa que talvez tenha sido a maior conquista de JJ nessa sua segunda passagem. A vitória por 3 a 0 contra o Barcelona no Estádio da Luz foi o ápice do treinador. O prestígio internacional que trouxe ao Benfica, depois de ter sido eliminado nos playoffs da edição anterior para o PAOK de Abel Ferreira.
Detalhe que, destes € 14,5 milhões do Barça, 14 (!) foram na contratação do Emerson Royal, que foi vendido na mesma janela por € 25 milhões. Nomes como Depay, Eric Garcia, Luuk de Jong e Aguero chegaram a custo zero. Ou seja, o Barcelona quase não gastou em contratações. Do outro lado, só na chegada de Yaremchuk, o Benfica pagou € 17 milhões.
Ninguém se importaria se o investimento trouxesse resultado, mas não foi o que aconteceu. A segunda passagem de Jorge Jesus termina sem nenhum título. Nem mesmo uma Taça da Liga ou Taça de Portugal que são competições mais humildes internamente. O Benfica investiu como jamais visto e apresentou um futebol nada condizente e previsível.
Do outro lado, viu o Sporting de Rúben Amorim, com muito menos, entregar muito mais dentro de campo. Os Leões levaram o Campeonato Português, depois de 19 anos sem vencer. Já o Porto, chegou às quartas da Champions também com orçamento inferior. Na atual Liga Portuguesa, ambos dividem a liderança invicta com 4 pontos de avanço das águias. Detalhe é que neste mesmo recorte (temporadas 20/21 e 21/22), o Sporting gastou € 49 milhões e o Porto € 46 milhões. Menos da metade do rico Benfica.

Assim como na sua 1ª passagem na Luz, Jorge Jesus não deu espaço para os jovens talentos da formação. Velhos conhecidos como Gedson (22) e Florentino (22) sequer foram testados. Em contrapartida, investiu 6 milhões de euros em Meïté (27) que joga na mesma posição. Nota-se que não é uma crítica efetivamente a idade dos jogadores, mas sim por uma questão de entendimento da realidade do futebol português que perpassa pela revelação e venda de jogadores.
O caso mais cruel é na defesa. Nesta reta final, com a lesão de Lucas Veríssimo (26), Jorge Jesus preferiu improvisar o experiente lateral-direito André Almeida (31) como zagueiro ao invés de escalar Morato (20) ou Ferro (24) na linha de defesa ao lado de Otamendi (33) e Vertonghen (34).
O caso mais emblemático é e Gonçalo Ramos. Mesmo sendo titular e artilheiro na Seleção Sub-21 de Portugal, o avançado de apenas 20 anos não conseguiu sequência com JJ. O treinador optou por investir em Yaremchuk, de 26 anos, do que dar mais chances ao jovem, que amargou a 4ª opção de ataque atrás do próprio ucraniano, Darwin Nuñez e Seferović.

Por essas e por outras que chega ao fim a relação entre Jorge Jesus e Benfica. Sem resultados, a gestão de grupo ficou escancarada. Esse que sempre foi um problema latente da carreira do treinador. Desta vez, foram inúmeros episódios de discussões à beira de campo e internamente que deixaram o ambiente insustentável para a sequência.
No fim, todos sabemos que Jorge Jesus está longe de ser o principal problema do Benfica. O clube continuará a ter problemas administrativos assim como foi neste ano. Resta saber como será feita a gestão dos ativos que possui hoje.
JJ é um personagem da história recente do futebol português e o revolucionou nos 6 anos da sua 1ª passagem pelo Benfica. Por esta lembrança, falou no seu último ato: “Este projeto que abracei com o coração chegou ao fim. Vim sempre a pensar que seria uma solução e não um problema. Tive a honra de ter voltado a esta casa e ter defendido os interesses do Benfica”.