O que esses sufixos tem acrescentado aos times portugueses?

Ao abrir a tabela do campeonato português, você provavelmente verá um “Belenenses SAD” e deve se perguntar por que adicionaram essas três letras depois do nome do time de Belém. Ou até mesmo ao ler um jornal português se depara com “SAD do Benfica…” Enfim, o que é de fato essa nova sigla que vem ganhando espaço e notoriedade nos últimos tempos?

SAD ou simplesmente Sociedade Anônima Desportiva é um modelo criado para melhorar a gestão financeira e a transparência nos clubes de futebol em Portugal. O foco é aproximar a gestão do futebol profissional ao estatuto jurídico de sociedade anônima.  A principal vantagem é uma nova forma de conseguir financiamento, uma vez que possibilita a entrada de novos acionistas, pois passou a ser uma empresa de capital aberto.

Quase são as consequências na prática? A primeira grande mudança é uma “desresponsabilização” da figura do dirigente. Sendo uma empresa de capital aberto, as decisões são diluídas entre os administradores e acionistas da empresa/clube, podemos dizer assim. A SAD vai criar um novo segmento dentro do clube que tem autonomia nas suas tomadas de decisão. Do outro lado dessa moeda, quando os resultados desportivos passam a ser frustrantes, o sócio não tem mais o poder de voto como antes e as decisões do futebol do clube passam a ser dos acionistas. Com isso, as atitudes começam a seguir caminhos questionados e outros rumos não imaginados, como qualquer outra empresa em decadência. Clubes como Atlético Clube de Portugal, Sport Club Beira- Mar e, o mais famoso e recente caso, o Clube de Futebol os Belenenses, tem sentido na pele essa outra faceta do modelo SAD.

Isso tudo começou em 2013. Segundo o decreto-Lei n.º 10/2013 de Portugal, a partir da temporada 2013/14, todo clube português de futebol para disputar competições profissionais deve migrar para um dos modelos de negócio proposto: a SAD ou o SDUQ. Aliás, sempre quando me referir a competições profissionais de Portugal, estamos nos referindo a Primeira e Segunda Liga Portuguesa.

Nesse momento você deve se perguntar: o que é SDUQ? Bom, a Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, a vulgar SDUQ, é a outra possibilidade jurídica existente que o clube se torne de um único acionista. A principal divergência entre os modelos é referente ao número mínimo de acionistas, capital social mínimo requerido para formar a sociedade, direitos dos acionistas minoritários e as responsabilidades de cada um dos acionistas.

A mudança na lei portuguesa que vem afetando o futebol: SAD ou SDUQ?

E o modelo SAD parece que foi o mais adotado pelos clubes. Dos 18 clubes da Primeira Liga portuguesa da temporada 2022/23, apenas Casa Pia, Arouca, Rio Ave, Gil Vicente e Paços de Ferreira adotaram outro modelo, o SDUQ.

Na prática, o clube português deve agora divulgar as informações, que antes eram tidas como privilegiadas, sobre os ativos da empresa, no caso, sobre os jogadores do time. Com isso, é uma forma de esclarecer para o mercado em geral como está a situação financeira do negócio para que também, dessa forma, conquiste novos investidores. Ainda nesse sentido, facilita muito o trabalho de jornalista, como futuramente será este que lhe escreve. Isso porque essas informações devem ser publicadas em jornais de grande veiculação para tornar de fácil acesso ao público.

Em outras palavras, essa mudança nos modelos de gestão do futebol português tem como foco aumentar a transparência do que ocorre dentro do clube a nível financeiro. Com isso, existirá um terreno mais seguro para possíveis investidores dentro do mundo do futebol.

Por exemplo, ao divulgar a venda dos direitos esportivos de um determinado jogador, o clube diz ao mercado como estão a ser geridas as suas contas, como pode ser o retorno dos seus investimentos e outras informações que geram uma maior confiabilidade ao investir dentro desse novo negócio. Como efeito cascata, passando confiança ao mercado, aumenta a sua possibilidade de conseguir novos investidores, atrair jogadores de alto nível para o seu tive e também o incentivo dos torcedores.

De uma forma bem clara, o objetivo do governo em fazer essa obrigatoriedade que todos os clubes se tornem um SAD ou SDUQ é claramente tornar mais transparente o que acontece hoje de forma obscura nos clubes. É evidenciar detalhes da venda de jogadores, investimentos, o máximo possível de forma que o governo consiga ter acesso as transações e facilitar a atividade do fisco, evitando que muitos clubes deixem efetivamente de pagarem a porcentagem do imposto. Além claro, de tentar melhorar a quantidade de dinheiro investido dentro do país.